Aproxima-se
mais um Natal e o despertar das nossas memórias é accionado de uma forma
instantânea e já um pouco distante, ao que vamos preservando cuidadosamente nos
baús das nossas existências. Lembro-me das fantasias que nos eram
proporcionadas com o chegar dos festejos natalícios. O tempo, esse, era frio e
chuvoso como se as condições atmosféricas adivinhassem que os presépios só
adquiririam o seu verdadeiro sentido, se revestidos com o musgo que
cuidadosamente íamos buscar aos troncos grossos das oliveiras que então
existiam..., daquelas que foram arrancadas por já não serem produtivamente
rentáveis! O estábulo onde estava o Menino acompanhado pelas restantes figuras
tradicionais, assim como o caminho percorrido pelo Baltasar, Belchior e Gaspar,
era iluminado por umas pequenas velas de cera, transmitindo a todo o presépio
um sentido bem diferente daquele que hoje lhe damos com aqueles cordões de
iluminação eléctrica, comprados e fabricados num qualquer país asiático! E o
sapatinho? O mistério existia mesmo! Na noite de Natal lá o colocávamos a um
cantinho das lareiras dos nossos pais e logo pela manhã bem cedo lá estávamos
para ver os tão desejados presentes do Pai Natal. Podiam ser simples, mas a
magia de um ambiente de felicidade por este momento único, funcionava de uma
forma contagiante a toda a família. Depois e ainda pela manhã, chegava a hora
de nos deliciarmos com os tão esperados velhoses e coscorões. Já os tínhamos
provado na Noite de Natal ainda quentes da fritura e na qual o papel da nossa
avó em conjunto com a necessária ajuda da nossa mãe se tornavam em presenças
indispensáveis, mas a partir de agora era certo que os famosos fritos iriam
fazer parte dos nossos pequenos-almoços até ao Domingo de Reis. Hoje compram-se
em qualquer confeitaria, não existindo mais esse maravilhoso ritual do seu
fabrico em ambiente verdadeiramente natalício. Em vésperas do Natal, já a
abóbora menina tinha atingido o seu estado ideal de maturação. Trazida da
horta, era descascada, limpa das pevides e cortada aos cubos, de seguida
colocava-se dentro duma enorme panela com água para ser devidamente cozida.
Depois era amassada num alguidar de barro, onde previamente se tinha misturado
a farinha, o sal, ovos e um pouco de fermento. A partir daí era o segredo, as
mãos fechadas permitiam que os nós dos dedos transformassem essa mistura numa
massa tenra e pronta a dar os famosos velhoses e coscorões, sem que antes não
se tivesse tapado com uma manta bem grossa o preparado de modo a levedar
convenientemente para o dia seguinte. Hoje abrimos o baú e estas lembranças
invadem-nos o coração! Uma amiga interrogava-se
a propósito, sobre o que tinha feito para tudo que isto não se tivesse perdido
no tempo! Interrogando-me no mesmo sentido, suspeito, com as razões que me
assistem, da inevitável evolução intrínseca da vida! Resta-nos as memórias...,
e se tivermos tempo, iremos abrindo aos tempos de hoje, a bela arca das nossas
memórias. Um Bom Natal para todos!
16 dezembro 2007
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