Em
tempos ainda anteriores à moda do "pronto a vestir", as
alfaiatarias ocupavam um lugar de relevo no tecido social da nossa terra. Para
além da mão de obra que empregavam, em conjunto com outras actividades
similares, prestavam um conjunto de serviços à população que em muito
contribuíam para a necessária vitalidade do Pombalinho. Porém, e fruto de uma
dinâmica "desenvolvimentista" então
implementada, estas pequenas empresas "familiares" foram
desaparecendo progressivamente, dando lugar a mercados deslocalizados, modernos
e mais agressivos em termos de consumo! Hoje, basta-nos memorizar o número de
tamanho do casaco e das calças que vestimos e em qualquer altura estamos
aperaltados para o momento mais exigente!! Mas apesar de tudo e dos ventos
soprarem contrários à vida de quem fez da profissão uma arte, ainda há quem
resista à modernidade dos tempos! ...
Francisco Cruz, João
Brás e Ângelo Ferreira nas traseiras da antiga alfaiataria, na Rua Barão de
Almeirim, Nº102.
... E um dos alfaiates
que percorreu profissionalmente essa época dos fatos cortados por medida e
provados antes da entrega final ao cliente, é o nosso conhecido Ângelo
Ferreira. Ele nasceu em 09 de Setembro de 1929 na localidade de S. Vicente do
Paúl . Aprendeu o ofício dos 14 aos 17 anos com um alfaiate da sua terra natal,
chamado Joaquim Mendes, mais conhecido entre os pombalinhenses por Joaquim
Alfaiate , que teve no Pombalinho alfaiatarias na rua e Sto António,
na rua Barão de Almeirim e rua António Eugénio de Menezes.
Ângelo Ferreira depois de aprender o ofício (tendo de para o
efeito, pagar a quantia acordada de 500$00) estabeleceu-se na Quinta da
Requeixada no ano de 1947, justificando a procura de um alfaiate que ali se
fazia sentir.
Mais
tarde regressou ao Pombalinho onde desempenhou a sua função no ano de 1948 a
1952, no número 96 da rua Barão de Almeirim, de Dezembro de 1952 a 1955, no
número 22 da rua 1º de Dezembro, de 1955 a 1965, ...
... no número 30 também da rua 1º de Dezembro (onde criou uma
espécie de "Casa do
Benfica" na qual se
poderia acompanhar as últimas notícias desportivas pela leitura do saudoso
"O Mundo Desportivo")
...
ainda com a sua primeira máquina de costura Huskwarna, adquirida em 1947!
Por fim e num texto da
sua autoria, intitulado "Barbearias e Alfaiatarias", Guilherme Afonso
retrata-nos como sempre uma interessante descrição da época, sobre os alfaiates
e toda a sua envolvência social no Pombalinho. Escreve ele então, a determinada
altura:
“….Quanto a alfaiates, eu ainda sou dum tempo em que não havia
nenhum estabelecido no, eu ainda sou dum tempo em que não havia nenhum
estabelecido no Pombalinho. Vinha um alfaiate de São Vicente do Paul, o Joaquim
Alfaiate (nunca o conheci por outro nome) arranjar clientes ao Pombalinho e,
pelos vistos, dava bem conta do recado. E havia para isso duas boa razões. Eram
elas, por um lado, que os alfaiates, por aqueles tempos e naqueles meios, só
faziam fatos para homens e, por outro, que a maior parte dos homens não mandava
fazer mais que dois fatos durante a sua vida, o primeiro para estrear no dia da
inspecção para o serviço militar (onde teria que despi-lo, assim como ao resto
da roupa), e o segundo para estrear no dia do casamento.
Um fato completo era, e é, composto por três peças, calças, casaco e colete, mas o colete usava-se muito pouco, pelo que a maior parte o não mandava fazer. Sempre ficava mais barato. E, por falar em custos, não será despiciendo lembrar que, desses dois fatos apenas que a maior parte mandava fazer ao longo da vida, um deles, o da inspecção militar, para um ou outro com maiores dificuldades tinha de ficar-se por um fatinho de cotim.”
*Para leitura completa do texto clique aqui
Um fato completo era, e é, composto por três peças, calças, casaco e colete, mas o colete usava-se muito pouco, pelo que a maior parte o não mandava fazer. Sempre ficava mais barato. E, por falar em custos, não será despiciendo lembrar que, desses dois fatos apenas que a maior parte mandava fazer ao longo da vida, um deles, o da inspecção militar, para um ou outro com maiores dificuldades tinha de ficar-se por um fatinho de cotim.”
*Para leitura completa do texto clique aqui
Pesquisa e fotos de Bruno Cruz
Colaboração de Ângelo Ferreira
Texto de Manuel Gomes
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