17 outubro 2011

Descamisadas!




Aspecto de uma descamisada na eira de Júlio José Barreiros  em  1911. 



Naqueles finais de Agosto, o luar iluminava intensamente as noites quentes de Verão de uma forma extraordinária! O brilho, do único satélite natural da terra, causava uma sensação de bem estar a todos quantos,  ao esperarem  pelo acabar do dia,   usufruiam agora  de uma leve e desejada  brisa  nocturna. O calor nessas alturas do ano fazia com que as condições de trabalho fossem muito árduas, justificando-se nessas circunstâncias, o recurso também à noite  para o exercício de  uma das actividades agrícolas de maior  tradição!  Precisamente,  as descamisadas!

Não era propriamente uma festa, no sentido rigoroso da palavra, mas o ambiente que se vivia á volta das descamisadas (mais as  de carácter e âmbitos familiares),  contagiava a todos que nelas participassem  de uma forma inesquecível!!!! Ranchos constituídos por adultos e crianças, percorriam  logo após o jantar, os  diversos caminhos em direcção às eiras do Pombalinho !

O milho já tinha sido apanhado e transportado de véspera! Estava agora amontoado na eira e pronto para que hábeis mãos o limpassem  de  forma  a que pudesse  ser mais tarde descarolado.


A descamisada era uma actividade manual que consistia em separar das maçarocas as camisas!! Estas passariam depois  por criteriosa selecção, porque o destino que as esperava era diferente! As mais escuras e velhas , ou seja, as de fora da maçaroca seriam transformadas em fardos para posterior alimentação do gado! As  mais macias e brancas, eram  aproveitadas para o enchimento dos colchões! 







Como curiosidades finais, refira-se a utilização de um utensílio metálico, a que se chamava "bico" devido à sua configuração, para facilitar a operação da descamisada! Mas também, as histórias que se contavam à volta da maçaroca vermelha, mais conhecida pelo milho-rei! Dizia-se da   moça que calhasse, ao acaso , a dita  maçaroca , ficaria casadoira  nos próximos tempos!!! Não se sabe da certeza desta  "profecia"  mas é  certo que  poucas, das que passaram pelas descamisadas,  ficaram solteiras! Enfim, tradições!!!



Foto da eira, gentilmente cedida por Fernando Furtado Barreiros.




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2 comentários:

Guilherme Afonso disse...

Mais uma excelemte evocação de outros tempos e seus costumes, caro Manuel Gomes. Eu fui muitas vezes para as descamisadas. Os rapazes, quando já namoravam, iam descamisar para os montes de maçarocas dos pais das namoradas. Sobre a maçaroca vermelha, lembro-me que o aparecimento de alguma metia beijos entre quem a descamisava e ficava com ela nas mãos e os restantes do grupo. Mas os preceitos exactos sobre quem beijava quem, tendo em conta o ser-se homem ou mulher, isso já me escapou. Por exemplo: só quando era uma rapariga a apanhar a maçaroca vermelha é que havia beijos ou sempre, fosse quem fosse que ficasse com ela nas mãos?
Um abraço.
Guilherme Afonso

maria mar disse...

É verdade, relembrei tudo isto e as descamisadas em casa dos avós.
Adorei o teu texto e estas tuas memórias!
Bjoca