04 junho 2013

A cultura do cânhamo !



Esta série de fotografias, sobre a cultura do cânhamo, foi-me enviada por José Barrão que o próprio recolheu de uma revista  editada no ano de 1940.
 De todas as fotografias apenas uma  refere o Pombalinho como sendo o local onde  estes  trabalhos foram realizados! No entanto,  uma outra, aquela cuja legenda identifica as manchas brancas como sendo pedras para manter o cânhamo submerso,  retira quaisquer dúvidas sobre onde efectivamente  estes trabalhos de tratamento do cânhamo foram executados!  De facto se nos posicionarmos na respectiva fotografia como se estivéssemos  na alverca de Fernão Leite, identificamos sem nenhuma dificuldade, no lado esquerdo da mesma,  o edifício da Escola Velha e logo a seguir onde hoje é a sede da Junta de Freguesia do Pombalinho.
Os trabalhos de extração da fibra pelas gramadeiras podem ter sido feitos numa das eiras que haviam ali bem por perto.

É um registo que muito nos congratulamos em publicar! Por duas razões! Por ser um tema que até hoje ainda não tinha sido abordado aqui no " Pombalinho"  e acima de tudo pela possibilidade de darmos  a  saber às  gerações de hoje,  mais uma atividade  agrícola que em tempos ocupou os campos do Pombalinho!

































Nota 1 -  "O Pombalinho"  agradece a José Barrão pela gentileza no envio das fotos assim como do texto de apresentação das mesmas, a partir do qual elaborei as linhas que servem de preâmbulo a  esta publicação.




Nota 2 - Por vezes recebemos comentários que  ultrapassam, felizmente,  os meros cumprimentos formais por tudo o que  vamos publicando aqui no  "Pombalinho"!  São riquissimos testemunhos de vidas que complementam perfeitamente os assuntos  a que se referem! Foi o que aconteceu com   "A cultura do cânhamo" ! Poucos dias depois da sua publicação recebi, via mail, de Guilherme Afonso o seguinte texto que traduzindo o que acabo de dizer,  de forma nenhuma o poderia deixar em arquivo e sem que dele aos leitores deste blog desse conhecimento.


Maputo, 11 de Junho de 2013

Recordar é uma arte... Não é assim, Caro Amigo Manuel Gomes?...
E é também viver, como é mais comum dizer-se.
E foi o que aconteceu comigo, ao ver esta reportagem sobre o cultivo do cânhamo (cannabis sativa) no Pombalinho: pôr-me a viver (ou talvez mais propriamente a reviver) os meus tempos de rapaz em que trabalhei em searas de cânhamo semeadas nos campos da nossa terra.
Poderei dizer que fiz tudo em searas de cânhamo desde a sua sementeira até á extracção da fibra das plantas, para uma fábrica têxtil em Torres Novas, excepto semeá-lo.
Constou na altura que até ali essa fábrica importava a fibra da Itália, mas que com o deflagrar da Segunda Guerra (1939-1945), isso deixou de ser praticável, dado o risco de afundamento dos navios que a transportassem.
De facto, não o semeei, mas um dos primeiros trabalhos assalariados que fiz, senão mesmo o primeiro, ao sair da escola com o 2º Grau da Instrução Primária feito (11 anos), foi exactamente espantar os pardais da primeira sementeira de cânhamo feita na nossa terra, a qual abrangia todo o terreno que vai desde o muro da Rua Carolina Infante da Câmara até á Alverca de Fernão Leite e da estrada Nacional 365 até á Estrada Real, exceptuando, claro, os espaços ocupados por uma vinha, que era do Manuel Sabino, e por um olival, que já não me lembro de quem era e se situava do outro lado da rua em que fica a Estalagem (Estalagem do Pocinho), parece que é assim  que se chama.
De resto, fiz tudo, até extrair-lhe a semente, para novas sementeiras e para vender para as lojas de comida para pássaros, e também para ir metendo na boca e mastigando.
A semente era extraída da planta fêmea, que crescia um pouco menos que a planta macho, para absorver desta, na sua parte gomosa, aquela de que se prepara o haxixe, o pólen sobre a sua florescência.
Um daqueles indivíduos mais novos vistos nas fotografias que o José Barrão lhe enviou, posso muito bem ser eu.
Para o José Barrão, que, salvo erro no cumprimento do serviço militar, andou aqui por estes lados, onde muitas vezes nos encontramos, um grande abraço.
A extracção da fibra pelas gramadeiras não se fazia em eiras. Fazia-se geralmente em olivais, à sombra das oliveiras.
E é o que se me oferece dizer-lhe Caro Amigo, sobre o cultivo da cannabis sativa nos campos do nosso Pombalinho.

Um grande abraço

Guilherme Afonso.



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