Esta série de
fotografias, sobre a cultura do cânhamo, foi-me enviada por José Barrão que o
próprio recolheu de uma revista editada no ano de 1940.
De todas as
fotografias apenas uma refere o Pombalinho como sendo o local onde
estes trabalhos foram realizados! No entanto, uma outra,
aquela cuja legenda identifica as manchas brancas como sendo pedras para
manter o cânhamo submerso, retira quaisquer dúvidas sobre onde
efectivamente estes trabalhos de tratamento do cânhamo foram
executados! De facto se nos posicionarmos na respectiva fotografia
como se estivéssemos na alverca de Fernão Leite, identificamos sem
nenhuma dificuldade, no lado esquerdo da mesma, o edifício da Escola
Velha e logo a seguir onde hoje é a sede da Junta de Freguesia do
Pombalinho.
Os trabalhos
de extração da fibra pelas gramadeiras podem ter sido feitos numa das
eiras que haviam ali bem por perto.
É um registo que muito
nos congratulamos em publicar! Por duas razões! Por ser um tema que até hoje
ainda não tinha sido abordado aqui no "
Pombalinho" e acima de tudo pela possibilidade de
darmos a saber às gerações de hoje, mais uma atividade
agrícola que em tempos ocupou os campos do Pombalinho!
Nota 1 - "O Pombalinho" agradece a José Barrão pela gentileza
no envio das fotos assim como do texto de apresentação das mesmas, a
partir do qual elaborei as linhas que servem de preâmbulo a
esta publicação.
Nota
2 -
Por vezes recebemos comentários que ultrapassam, felizmente,
os meros cumprimentos formais por tudo o que vamos publicando aqui
no "Pombalinho"!
São riquissimos testemunhos de vidas que complementam perfeitamente os
assuntos a que se referem! Foi o que aconteceu com "A cultura do cânhamo"
! Poucos dias depois da sua publicação recebi, via mail, de Guilherme
Afonso o seguinte texto que traduzindo o que acabo de dizer, de
forma nenhuma o poderia deixar em arquivo e sem que dele aos leitores deste
blog desse conhecimento.
Maputo, 11 de
Junho de 2013
Recordar
é uma arte... Não é assim, Caro Amigo Manuel
Gomes?...
E é também
viver, como é mais comum dizer-se.
E foi o que
aconteceu comigo, ao ver esta reportagem sobre o cultivo do cânhamo (cannabis
sativa) no Pombalinho: pôr-me a viver (ou talvez mais propriamente a reviver)
os meus tempos de rapaz em que trabalhei em searas de cânhamo semeadas nos
campos da nossa terra.
Poderei dizer
que fiz tudo em searas de cânhamo desde a sua sementeira até á extracção da
fibra das plantas, para uma fábrica têxtil em Torres Novas, excepto semeá-lo.
Constou na
altura que até ali essa fábrica importava a fibra da Itália, mas que com o
deflagrar da Segunda Guerra (1939-1945), isso deixou de ser praticável, dado o
risco de afundamento dos navios que a transportassem.
De facto, não o
semeei, mas um dos primeiros trabalhos assalariados que fiz, senão mesmo o
primeiro, ao sair da escola com o 2º Grau da Instrução Primária feito (11
anos), foi exactamente espantar os pardais da primeira sementeira de cânhamo feita
na nossa terra, a qual abrangia todo o terreno que vai desde o muro da Rua
Carolina Infante da Câmara até á Alverca de Fernão Leite e da estrada Nacional
365 até á Estrada Real, exceptuando, claro, os espaços ocupados por uma vinha,
que era do Manuel Sabino, e por um olival, que já não me lembro de quem era e
se situava do outro lado da rua em que fica a Estalagem (Estalagem do Pocinho),
parece que é assim que se chama.
De resto, fiz
tudo, até extrair-lhe a semente, para novas sementeiras e para vender para as
lojas de comida para pássaros, e também para ir metendo na boca e mastigando.
A semente era
extraída da planta fêmea, que crescia um pouco menos que a planta macho, para
absorver desta, na sua parte gomosa, aquela de que se prepara o haxixe, o pólen
sobre a sua florescência.
Um daqueles
indivíduos mais novos vistos nas fotografias que o José Barrão lhe enviou,
posso muito bem ser eu.
Para o José
Barrão, que, salvo erro no cumprimento do serviço militar, andou aqui por estes
lados, onde muitas vezes nos encontramos, um grande abraço.
A extracção da
fibra pelas gramadeiras não se fazia em eiras. Fazia-se geralmente em olivais,
à sombra das oliveiras.
E é o que se me
oferece dizer-lhe Caro Amigo, sobre o cultivo da cannabis sativa nos campos do
nosso Pombalinho.
Um grande abraço
Guilherme
Afonso.
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