08 setembro 2010

Júlio Freire!






Pelos caminhos intermináveis e curvos da internet, somos por vezes agradávelmente surpreendidos com textos que dificilmente imaginaríamos vir a encontrar. É o caso do que hoje publicamos, da autoria de José Bray, retirado do blog intitulado "Bray". Tem a particularidade de nele ser referenciada uma interessante passagem de vida do nosso bem conhecido conterrâneo, Júlio de Conceição Freire. 
Como muitos de nós sabemos, Júlio Freire foi uma daquelas personalidades carismáticas do Pombalinho. Ao recordarmos nele aquele ar de quem muito pensava da vida, transparecia a quem com ele se cruzava, que ela, a vida, lhe causava algumas apreensões. Homem de ideias firmes, era possuidor de uma cultura acima da média, se tivermos em consideração o meio social de uma aldeia como o Pombalinho! Mas acima de tudo era um crítico da vida, da vida que ele não gostava! Muito boa gente achava-o por isso, rezingão! Mas ele lá tinha as suas razões! 

Quem com ele teve o privilégio de conviver, nem que tivesse sido por breves momentos, aprendeu sempre algo que em mais lado nenhum se ensinava! Era pessoa de poucas palavras, imbuído por vezes de um certo afastamento social, não facilitando por isso o diálogo. Mas naquela noite de verão, não sei o que lhe passou pela cabeça e quando eu vinha do Chico Minderico, depois de assistir a mais um serão televisivo, chamou-me e disse-me: "Oh Calvaria, chega aqui para te mostrar uma coisa"! Foi dentro de casa e pouco tempo depois quando regressou, trazia um livro grosso e com sinais já de algum uso! Abriu-o para eu ver e disse-me: "Vês, aqui podemos saber muita coisa da história do mundo!!!" Fascinado pelo que os meus olhos contemplavam, pude observar pela primeira vez um Dicionário Ilustrado !

Bem, mas vamos lá ao texto de José Bray, depois desta pequena deriva em memória, também ela, de Júlio Freire.
Começa então assim:



Fonte -    Bray 









Depois da publicação deste texto de José Bray, recordei-me que também neste mesmo contexto, apoio a Humberto Delgado e prisão em Aljube, já Guilherme Afonso a Júlio Freire se tinha referido numa resposta a uma carta que então lhe dirigi no ano de 2004.
Assim me escreveu o nosso amigo e conterrâneo, a 21 de Junho desse ano:

"Diz o Manuel Gomes, ao referir-se ao Júlio Freire (aí está, entre si e ele, um dos tais encontros que o acaso proporcionou e que o meu amigo soube valorizar), que ele foi, e é, uma referência do Pombalinho. Como é natural, já o foi mais do que é, porque os anos vão passando e as referências vão-se esbatendo. Sabe que o pai dele (também Júlio, se não estou em erro) foi (e falo mesmo só no passado. Quem é que, hoje, se lembre dele?) uma referência ainda maior que a do filho? No meu tempo e no Pombalinho não havia ninguém que sequer se lhe aproximasse em conhecimentos. E, além do mais, gostava de ensinar e fazia-o gratuitamente. O meu pai (e não só ele, julgo eu), já ao chegar à idade adulta, aprendeu com ele a ler. Curiosamente, só a ler. E só a ler letra impressa - jornais e livros. Mas lia muito bem. No entanto, a escrever apenas aprendeu a rabiscar o nome, que era José dos Santos, e não José Afonso. Afonso era o nome próprio do pai dele, meu avô que não conheci.

O Dicionário Ilustrado do Júlio Freire de que o meu amigo fala era o "Dicionário Prático Ilustrado Lello", da Editora Lello & Irmão, que eu também folheei algumas vezes e de agora possuo uma edição de 1989.

Sabe que em 1989 o Júlio Freire não pode votar? Realizaram-se nesse ano eleições para a Presidência da República em que o candidato da Oposição era o General Humberto Delgado, de cuja candidatura o Júlio Freire era o delegado no Pombalinho, e creio que também o meu primo Joaquim Correia dos Santos (o Canca). E creio que também a ambos (ao Júlio Freire, de certeza) a PIDE recolheu para o Aljube antes do dia das eleições e lá os manteve durante pelo menos três meses."



Nota - A foto de Júlio Freire foi gentilmente cedida por José Bray. 







2 comentários:

Guilherme Afonso disse...

Caro Amigo Manuel Gomes, gostei de ver o spot sobre o Júlio Freire e a sua fotografia de quando era ainda bastante novo. A ideia que eu guardo dele não é, porém, a de uma "pessoa de poucas palavras, imbuido por vezes de um certo afastamento social, não facilitando(...) o diálogo". Eu diria até que ele pendia mais para o contrário. Será que ele terá mudado em relação ao tempo em que muito convivemos, fazendo palavras cruzadas e matando charadas juntos? Pode muito bem ter acontecido
Quanto ao José Bray, se ele é o pai das netas do nosso Amigo Júlio Freire, quer isso dizer que é o marido da Florência, não é assim?

MGomes disse...

Pois, Caro Amigo Guilherme, aceito sem quaisquer reservas o que me diz sobre Júlio Freire. A imagem que dele fui construindo, feita nos breves encontros que tive com ele, foi de uma pessoa reservada e de algum distanciamento, portanto compreensívelmente diferente, dessa que me deu!

É um facto que estou referir-me a um tempo em o Júlio Freire já tinha uma idade um pouco avançada! Tinha eu os meus dezoito/vinte anos!A vida sempre vai mudando as pessoas, não é?

Sobre a sua filha Florência, é claro que é esposa de José Bray.

Um Abraço