Aspecto de uma descamisada na eira de Júlio José Barreiros em 1911.
Naqueles finais de Agosto, o luar
iluminava intensamente as noites quentes de Verão de uma forma extraordinária!
O brilho, do único satélite natural da terra, causava uma sensação de bem estar
a todos quantos, ao esperarem pelo acabar do
dia, usufruiam agora de uma leve e desejada
brisa nocturna. O calor nessas alturas do ano fazia com que as condições
de trabalho fossem muito árduas,
justificando-se nessas circunstâncias, o recurso também à
noite para o exercício de uma das actividades agrícolas
de maior tradição! Precisamente, as descamisadas!
Não era propriamente uma
festa, no sentido rigoroso da palavra, mas o ambiente que se vivia á volta das
descamisadas (mais as de carácter e âmbitos familiares), contagiava
a todos que nelas participassem de uma forma inesquecível!!!!
Ranchos constituídos por adultos e crianças, percorriam logo após o
jantar, os diversos caminhos em direcção às eiras do Pombalinho !
O milho já tinha sido apanhado e
transportado de véspera! Estava agora amontoado na eira e pronto para que
hábeis mãos o limpassem de forma a que pudesse ser mais
tarde descarolado.
A descamisada era uma
actividade manual que consistia em separar das maçarocas as camisas!! Estas
passariam depois por criteriosa selecção, porque o destino que as
esperava era diferente! As mais escuras e velhas , ou seja, as de fora da
maçaroca seriam transformadas em fardos para posterior alimentação do gado!
As mais macias e brancas, eram aproveitadas para o enchimento dos
colchões!
Como curiosidades
finais, refira-se a utilização de um utensílio metálico, a que se chamava "bico" devido à sua configuração, para facilitar a operação
da descamisada! Mas também, as histórias que se contavam à volta da maçaroca
vermelha, mais conhecida pelo milho-rei! Dizia-se
da moça que calhasse, ao acaso , a dita
maçaroca , ficaria casadoira nos próximos tempos!!! Não se sabe da
certeza desta "profecia" mas é certo que poucas, das que
passaram pelas descamisadas, ficaram solteiras! Enfim, tradições!!!
Foto da eira,
gentilmente cedida por Fernando Furtado Barreiros.
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2 comentários:
Mais uma excelemte evocação de outros tempos e seus costumes, caro Manuel Gomes. Eu fui muitas vezes para as descamisadas. Os rapazes, quando já namoravam, iam descamisar para os montes de maçarocas dos pais das namoradas. Sobre a maçaroca vermelha, lembro-me que o aparecimento de alguma metia beijos entre quem a descamisava e ficava com ela nas mãos e os restantes do grupo. Mas os preceitos exactos sobre quem beijava quem, tendo em conta o ser-se homem ou mulher, isso já me escapou. Por exemplo: só quando era uma rapariga a apanhar a maçaroca vermelha é que havia beijos ou sempre, fosse quem fosse que ficasse com ela nas mãos?
Um abraço.
Guilherme Afonso
É verdade, relembrei tudo isto e as descamisadas em casa dos avós.
Adorei o teu texto e estas tuas memórias!
Bjoca
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