27 abril 2009

Hilário José Barreiros


Na vida recente do Pombalinho, vários seus presidentes de Junta de Freguesia decidiram identificar algumas das ruas da autarquia com nomes de personalidades pombalinhenses!

O intuito terá sido, como é normal nestas atitudes oficiais, para lhes prestar um reconhecimento público por actividades exercidas ao serviço do interesse colectivo da comunidade. Quem hoje passa por essas artérias interroga-se ,com toda a pertinência, sobre quem foram exactamente e que relevância histórica tiveram na vida dos pombalinhenses  essas pessoas que têm a honra  de figurarem na respectivas placas toponímicas.









Rua Hilário José Barreiros é uma delas! Não existe muita informação sobre a sua vida e particularmente sobre a actividade que exerceu como proprietário agrícola, mas por testemunhos documentais a que tivemos acesso, comprova-se a influência que teve na vida de muitos Pombalinhenses

Com efeito e por colaboração do seu bisneto Fernando Furtado Barreiros no envio do texto e documentos a seguir publicados, foi-nos possível compilar aqui no "Pombalinho", matéria suficientemente importante e enriquecedora para conhecermos um pouco da personalidade desse ilustre benemérito que foi Hilário José Barreiros.  














Com referiu Fernando F Barreiros na biografia de Hilário José Barreiros, uma carta do Barão de Almeirim, Manuel Nunes freire da Rocha, que lhe foi dirigida em 15 de Maio de 1880, é sintomáticamente esclarecedora quanto às suas qualidades de caracter que o seu "amigo sincero e verdadeiro" possuía. Escreveu ele então:


"Tu tens sido sempre meu amigo sincero e verdadeiro, tens-me servido sempre com interesse e dedicação, apesar de sair para fora do país não me posso esquecer dos teus bons serviços, não te quero abandonar e pelo contrário te quero dar uma prova de que te estou grato por tudo o que por mim tens feito e para isso lembrei-me de reservar a Quinta do Outeiro para ti e arrendar a longo prazo por uma renda razoável a fim de te poderes assim estabelecer por tua conta e não teres de ir servir algum nono amo que não saiba apreciar o que tu vales e que não te trate como tu mereces ser tratado.."




Nesse mesmo documento, o Barão de Almeirim concede a Hilário José Barreiros a Quinta do Outeiro a título de arrendamento, e mais terras e oficinas que este também por bem achasse receber. Eis pois, como ele entendeu justificar essa sua benemerência a Hilário José Barreiros:


" Vai pois pensando no que te convém para o futuro, faz uma relação de tudo o que te convém ..., não te ponhas com cerimónias e hesitações, diz-me com franqueza tudo o que te fizer mais conta porque tudo se há-de arranjar, o que eu quero é deixar-te habilitado a poderes ganhar a tu a vida sem ficares na dependência de mais ninguém e da melhor vontade te faço isso porque sei que és merecedor de que eu te faça isso, portanto não te ponhas com acanhamentos e fala-me com franqueza no sentido que acabo de te indicar "



Para carta na íntegra clicar,   Aqui 




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Um outro documento referenciado na sua biografia, é este excelente texto, intitulado "Memórias do Passado", da autoria de Adriano Carmo, "Pombalinhense" adoptivo como ele próprio se auto-identifica logo de início e em que enaltece as virtualidades das pessoas do Pombalinho, como amistosas e sempre prontas a compartilhar momentos de felicidade com o próximo. Escreve ele a dada altura, sobre Hilário José Barreiros:


"... Por outro lado, tenho bem na memória as figuras respeitáveis dos beneméritos Hilário José Barreiros e Carlos Albano, por assim dizer pais de todos e especialmente dos humildes, que sempre que recorriam à sua bondade eram recebidos com um sorriso e servidos imediatamente. O Hilário por exemplo: em ocasiões de crise de trabalho e nada haver que fazer, nunca a sua boca se abriu para dizer "não"... e inventava trabalho para os desgraçados só com o fim de minorar, um pouco a fome àqueles que a tinham nos seus lares. Era uma nobreza de caracter!Aos envergonhados, mandava também os seus criados levar-lhes a casa os seus óbulos em dinheiro ou em géneros. Foram actos que tive ocasião de observar e que amiudadas vezes se repetiam. Qualquer deles, tinha de todos que os conheciam uma simpatia aliada a um carinho muito merecido, pelo seu belo carácter, pelo altruísmo que sempre demonstraram na sua vida. ram uns verdadeiros exemplos para os daquela época. As suas memórias conservo-as como se conserva a maior das relíquias, porque eles eram uma relíquia do passado."










Biografia da autoria de seu bisneto, Fernando Furtado Barreiros, a quem obviamente o "Pombalinho" agradece esta excelente colaboração.





22 abril 2009

Retratos V





Fotografia tirada há precisamente, 58 anos! Da esquerda para a direita, Rui Borges, José Silva, Francisco Borges e Carlos Cavaco. A criança não é identificável.




Colaboração Victor Reis



20 abril 2009

Diploma 4ª Classe!






Era assim, com este documento graficamente bem expressivo quanto aos valores que o regime político de então entendia divulgar na sociedade e com a devida incisão estratégica no ensino, que se certificavam os alunos do Ensino Primário em 1966! O requerente foi Gabriel Joaquim, que tinha concluido o exame da 4ª Classe em Julho de 1937.




Colaboração documental de Júlio Gabriel e Bruno Cruz






17 abril 2009

Passagem de Classe!






É um documento magnífico! Não só pelo significado que representa a quem é dirigido mas também por toda a beleza gráfica que foi empregue na sua elaboração! Este certificado era utilizado há oitenta anos e o valor simbólico que representava, estava com toda a certeza a um nível bem mais superior do que as novas formas de comunicação que hoje existem entre escolas e alunos nas mais variadas vitrines das nossas escolas! É datado de 1933 e serviu de oficialização à passagem da 3ª para a 4ª classe de Olímpia Florência Borges.



Colaboração documental de Victor Reis






15 abril 2009

Classes Escola Primária 1972/73





Classes que frequentaram a escola primária do Pombalinho no ano lectivo de 1972/73. Nesta fotografia reconhecemos na primeira fila e da esquerda para a direita, António M Barão, Mário Narciso, Luís Filipe Júlio, Manuel J Gandarez, José Migas, Camilo Pereira, António Lopes, Víctor Gomes, Pedro Leal e Pedro Menezes. Na segunda fila e pela mesma ordem, Paulo Garcia, Paulo Correia, Cristina Légua, Lurdes Félix, Rosa, Lena Félix e Lena Maria. Na terceira fila, Eduardo Narciso, Maria Emília, Lina Maria, Paula Vieira, Paula Cristina, Luísa Maria, Mafalda Barros, Marina Costa, Otília Grais, Graça Cota, Hélder Arroteia, professoras Maria Lucinda e Maria José Simões.




Colaboração fotográfica de Pedro Menezes e Bruno Cruz







09 abril 2009

Bateiras em 1950 e 1954!


Agora que a Páscoa se aproxima, há uma tradição que teima em não desaparecer, apesar de toda a força que a modernidade dos tempos sempre acaba por imprimir a este tipo de festejo popular! ! Refiro-me claro está, às bateiras, às nossas bateiras! Porque na verdade, em mais nenhuma região do país a segunda feira de Páscoa passada no campo à volta de um divertido piquenique, assim é conhecida e denominada!


Não se sabe ao certo a partir de que ano se iniciaram estes festejos na nossa terra ! Existem no entanto alguns registos fotográficos e muitas histórias à sua volta! É aos primeiros que novamente recorremos para recordar dois grupos de jovens que se juntaram algures nos campos do Pombalinho e cumpriram a tradição nos anos de 1950 e 1954!






10 de Abril de 1950 - Joaquim Duarte, Manuel Bernardino, António Rufino, António Domingos, António Carréis, Carlos Cavaco e Alberto Gomes.








19 de Abril de 1954 - Na cadeira de rodas, João Barbeiro (João Anacleto), ladeado à sua direita por um individuo de Vale Figueira conhecido por "pescador" e à sua esquerda pelo Rui Valadares. Atrás da panela, Manuel Silva Rodrigues, tendo à sua esquerda, Manuel Feijão e à sua direita outro individuo de Vale Figueira, chamado António Lezeire. O míudo, é o Rui Mota, filho do João Barbeiro.



Nota – Para Blog temático clicar em   Bateiras





Colaboração fotográfica de Antonio Domingos e Manuel Rodrigues

Pesquisa de Bruno Cruz





05 abril 2009

Retratos IV !




Joaquim Pedro de Menezes.




Joaquim Pedro de Menezes era filho de António Eugénio de Menezes e de Maria Antunes Bento. Nasceu no Pombalinho em 30 de Novembro de 1927 e faleceu na sua terra natal em 03 de Junho de 1976.
Foi casado com Maria Lisette da Silva. Desta união matrimonial nasceram quatro filhos, José António Silva de Menezes, Maria Eugénia Silva de Menezes, Pedro Silva de Menezes e Ana Rita Silva de Menezes.

Foi um dos mais importantes agricultores do Pombalinho, tendo contribuído durante largos anos para o emprego de muitos pombalinhenses através do exercício de várias actividades agrícolas, em terras de que era proprietário.

No período de 05 de Janeiro de 1960 a 02 de Novembro de 1963, exerceu o cargo de Presidente de Junta da Freguesia do Pombalinho.



Colaboração fotográfica de Pedro Menezes e Bruno Cruz.






02 abril 2009

Adiafa 1950/51!





Celebrava-se o fim das vindimas nesse ano de 1950 e o rancho reunia-se no pátio da quinta da família Menezes, no Pombalinho, para dar início à adiafa. Nesta fotografia reconhecem-se na primeira fila e da esquerda para a direita, Anita Marcano, Luísa Barreiros, Elvira Bacalhau, António Rufino, Laurinda Antunes, Fernanda Barreiros e Silvina Bacalhau. Na segunda fila e pela mesma ordem, Maria Adelaide Saúde, Helena Minderico, Irene Coradinho, Maria Júlia Cavaco, Albertina Grais, Maria Carolina, Maria Júlia Duarte, Conceição Cruz, Soledade Cavaleiro, Luísa Cota, António Bogalho e Alexandre (cego do Reguengo). Na terceira fila, José Carvalho (tratorista), Francisco Cavaleiro, Guilherme Afonso, Luís Barreiros, Alcides Vieira, João Dias, Gabriel Joaquim, Nicolau Mogas, Alberto Bacalhau, Joaquim Antunes, Clemente e José Mogas.


"Adiafa vem do árabe (addyafa) e significa banquete após o trabalho no campo."
"Consiste na oferta em géneros alimentícios, em peças de vestuário ou em dinheiro, aos trabalhadores rurais no fim dos trabalhos agrícolas."


"É uma refeição de caracter festivo, que o patrão oferece aos trabalhadores no fim de algumas fainas agrícolas: ceifa, vindima, apanha da azeitona, etc."



A adiafa na verdade, é tudo isto! Mas essencialmente consiste na realização de um ambiente festivo que se celebra, ou celebrava, no fim das colheitas! Hoje com a industrialização agrícola e a consequente substituição de mão de obra pela força férrea das máquinas, muito dificilmente assistiremos a este tipo de confraternização pelos campos do nosso Ribatejo.


E é justamente para que possamos imaginar um pouco dessa comemoração, que recorri a um livro editado em 1864 para dele retirar excerto de um capítulo bem ilustrativo de toda a envolvência que rodeava a preparação a adiafa! Começa então assim:


“... Estamos em Novembro, e o sopro gelado do inverno já convida a acender-se o braseiro, e a agruparem-se-lhe em torno, as famílias, sentindo crepitar a lenha, e estalarem as castanhas e as bolotas, que as crianças assam alegremente ao lume da lareira.
A quinta, onde eu agora tenciono introduzir os meus leitores, é vasta e produtiva. A aragem fria de Novembro faz ondular a copa dos seus imensos pinhais, e um exercício de varejadores doideja, ri, e tagarela por baixo da folhagem cinzenta das suas oliveiras. As vinhas misturam-se a perder de vista com as searas; e o pomar, a horta, e o jardim vão-se abrigar à sombra das paredes da casa, ousando até este último, destacar como vedetas, roseiras e jasmins, que vão, trepando silenciosamente, espreitar pelas janelas, e enviar o seu perfume, como suave homenagem, aos donos desse pequeno mundo.

No dia em que chegamos terminou a colheita da azeitona, e, segundo o costume, há de se celebrar a festa, cuja risonha perspectiva bastará para suavizar, aos olhos dos aldeãos, todos os trabalhos de dois meses. Depois do labutar incessante vem o dia de regozijo! Depois da campanha fadigosa o triunfo ambicionado. Os varejadores vão subir ao Capitólio!

Os almocreves de notícias da localidade já espalharam por toda a parte que ia haver adiafa na quinta de tal. Nem os pregadores da azzhala da guerra santa contra os cristãos podiam ser tão bem acolhidos pelos fiéis crentes de Mafoma, como estes noticiaristas orais o eram pelos alegres camponeses dos arredores! Vai haver adiafa, adiafa! Palavra mágica, que envolve a ideia de vinho á descrição, comida a fartar, e bailarico até as pernas dizerem “basta”, Adiafa! Isto é a festa da azeitona, a noite de benefício dos varejadores, o gáudio rasgado, o reinado da folia! Vão lá oferecer o trono do universo sem adiafa!

Subamos a escada de pedra, ao cimo da qual se topa o alpendre e entremos sem receio na vasta casa de entrada, mobilada simplesmente com bancos de pinho. A hospitalidade é um dever sagrado dos proprietários do Ribatejo, e nenhum, por mais duro que tenha o coração, ousa esquivar-se ao cumprimento dele. Subamos pois: espera-nos um bom acolhimento.

Vai um grande ruído a essa hora na casa de entrada, onde penetrámos. Nesse dia, como dissemos, findara a colheita da azeitona, e estava-se realizando a adiafa. Um pequeno olival dos donos da quinta, fora reservado para o último varejo, mais para satisfazer a uma formalidade, do que por não se poder completar a colheita na véspera do grande dia. Mas a etiqueta camponesa assim o exige. Varejar o pequeno olival é como pôr a última pedra num edifício, pretexto para a festividade. Já para esse trabalho os varejadores e apanhadeiras foram vestidos com os seus fatos ricos, e procedeu-se ao varejo com uma gravidade que não deslustraria o inaugurar de um caminho de ferro.

Antes do meio dia estava tudo pronto, e os alegres varejadores, com o coração palpitante, enfileiraram-se atras do seu chefe, que arvorou, em tão solenemente momento, a bandeira da procissão, onde figurava um registo da Virgem, cercado de vistosos laços de diferentes cores. O capataz abriu a marcha e caminharam na sua retaguarda os festivos pares aldeãos. Apenas os donos da casa avistaram ao longe a comitiva, ordenaram que se preparasse a mesa, onde os pobres trabalhadores se haviam de regalar com um banquete, cuja suave recordação bastasse para iluminar, com esplendida luz gastronómica, as trevas da futura e forçada abstinência. Um bom jantar português, farto e suculento! A sopa fumegava em cima da mesa, a vaca e o arroz formavam depois em ordem de batalha. À hora em que entramos, e em que, segundo dissemos, o sol se sumia no acaso, sumia-se também o último pedaço do apetecido manjar no último recanto do estômago aldeão em quanto esperavam saciados que a noite descesse para recomeçarem as danças!!!! "

Por último, um testemunho bem mais recente de alguém que viveu e ainda vive a adiafa na sua terra!

"... Hoje o meu bom amigo Pedro Melro, emérito e orgulhoso produtor de vinho de Alcanhões, convidou-me para a Adiafa. Para quem não sabe, a Adiafa significa a festa que se oferece aos trabalhadores no último dia das vindimas. De acordo com o dicionário a palavra vem do árabe addyafa e significa banquete.
Embora esteja um pouco desvirtuada, esta tradição fez parte do meu crescimento e habituei-me a ouvir falar dela e algumas vezes a, orgulhosamente, participar. Digo orgulhosamente, porque nessas alturas fazia também parte do rancho da vindima, quase sempre por amizade e camaradagem.

Recordo com saudade, o convívio com aquelas gentes simples, o cheiro da terra e das uvas, o suor nos rostos, as cantigas e os cestos pesados que me faziam sentir um homem naquele reino de Homens e Mulheres.


Hoje senti-me quase um intruso, como se não merecesse comer e beber como os outros! O pão caseiro não me soube tão bem. A lebre deliciosa e a sopa de pedra. Os tomates apanhados da terra, o vinho maravilhoso. As azeitonas. O vinho. O vinho!
Para o ano duas resoluções ficaram. Vou primeiro à vindima e não repito a estupidez de não levar a máquina fotográfica!"



Colaboração fotográfica de Pedro Menezes e Bruno Cruz