07 outubro 2011

Casamentos XII



Casamento de Ana Leal com Francisco Cruz,  no ano de 1958.



Em tempos não muito longínquos, nas pequenas aldeias, os casamentos eram para além da solenidade que o acto impunha, momentos muito vividos e participados pelas famílias dos noivos e naturalmente também pelos respectivos convidados. Estes acontecimentos mobilizavam sempre grande número de pessoas, pois toda a preparação da boda e a sua ligação a um certo tradicionalismo que se cumpria em todos os pormenores, exigia tempo para a sua realização. Mandavam os costumes, que era incumbência dos pais dos noivos a quem cabia grande parte desses cuidados! Eram engordados os porcos,  os borregos e as galinhas,  para que no dia a comida fosse farta e a contento de todos! As bodas eram para além da sua razão suprema, dias de grande festa nas aldeias!!!

Uma das maiores responsáveis para que nada fosse deixado ao acaso, em termos culinários, passava naturalmente pela cozinheira! No Pombalinho houve uma senhora que talvez tivesse sido a mais requisitada para estas andanças! Chama-se Clementina e devido aos seus saberes e experiências, foi durante muitos anos a mais solicitada  pelos  noivos e em quem eles confiavam inteiramente toda a organização culinária da boda!

Com alguma antecedência, mais ou menos um mês, cumpria-se um ritual preparatório da boda que era o que então se entendeu chamar de “visitas“. No fundo tratavam-se de gestos de cordialidade com que os pais dos noivos queriam presentear todas as pessoas da sua estima, e que constava da oferta de uma travessa de arroz doce composta de coscorões e bolinhos de noiva! É claro que a este simpático gesto estava subjacente um certo sentido monetário da oferta, porque em bom rigor o que se pretendia era conseguir algumas compensações monetárias que minimizassem os custos inerentes à realização da boda !

No dia do casamento, logo pela manhã, era prática de entre alguns  convidados dirigirem-se ao local onde iria decorrer o banquete, para ali  saborearem o tão apreciado fricassé! Este característico pitéu era  um guisado feito com fígado de porco, algumas gemas de ovos e temperado com limão, salsa e outros condimentos a condizer! Era  apreciado por todos os que, logo bem cedo, não queriam perder pitada da  festa que se avizinhava ser de muita participação e alegria.

Depois da cerimónia religiosa do casamento e dos registos fotográficos de circunstância, chegara finalmente a hora do banquete!  No Pombalinho, algumas casas existiram de dimensões exigíveis para este  serviço!  De entre outras,  havia  uma  construída  para o efeito pelo José Guilherme anexada  à sua casa de habitação. Ali se realizaram, talvez, os últimos  banquetes de  casamentos realizados no Pombalinho.

As mesas rectangulares e de bancos corridos, eram dispostas ao longo do salão, desde a zona da cozinha até bem perto da porta de entrada!  O cheiro a borrego guisado com ervilhas e batatas,  ao  invadir o apetite dos mais esfomeados, sinalizava de que estava para muito breve o início do almoço! As mulheres que serviam as mesas, entravam  perfiladas pelo salão com as panelas da sopa! A tradicional canja de galinha começava a ser servida para aquecer, finalmente,  os estômagos dos mais impacientes! 

Durante  o almoço e já na sua parte final começavam-se a ouvir os primeiros acordes musicais do acordeonista ou do conjunto musical que tinham sido contratados para abrilhantar o ambiente da boda! Vem à memória  nesta pequena viagem pela história dos casamentos que se realizaram no Pombalinho, o famoso conjunto de Figueira Padeiro,  mas também o conhecido  António Rufino e a sempre saudosa Victória da Silva. Ao som de todos eles, os mais dançarinos abandonavam as mesas e davam início ao baile! Os noivos mereciam um ambiente de festa e de  muita alegria que envolvesse todos os participantes!

Depois viria o jantar, que não era muito diferente do almoço! As  pessoas já mais libertas de alguns formalismos tendiam a soltarem-se mais um pouco! A  animação ainda viria a tingir momentos altos! À mesa começavam-se a ouvir as primeiras "vivas"  aos noivos, aos pais dos noivos e  também aos padrinhos! Os mais afoitos e criativos na construção de quadras poéticas, pediam licença a todos os presentes, levantavam-se e de copo de vinho bem lá no alto segurado por uma mão já por vezes trémula, lá diziam a sua "viva" . 

"A todos os presentes eu dou
Um viva com emoção!
Para os noivos eu quero dar
Um abraço do coração!"

É claro que a partir daqui a animação atingia outros níveis e a música tomava conta de toda a gente!!! Chegavam-se a fazer verdadeiros despiques sobre a quadra mais bem construída! A intensidade das ovações protagonizada pelos presentes, classificava a melhor de entre todas!  Na parte final do jantar e enquanto  este ainda decorria,, tinha chegado a hora do pessoal da cozinha; improvisavam  pequenas marchas de homenagem aos noivos,  ao som das batidas das tampas das panelas e percorriam o corredor central do salão em ambiente de natural alegria!!!!

Já pelas altas horas da noite, os convidados começavam individualmente  a  desejar aos noivos as maiores felicidades  para a vida que agora em comum iriam  iniciar! Era a boda que lentamente se aproximava do seu fim!



Colaboração fotográfica - Fernando Leal





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