27 janeiro 2010

O "Portugal" !


Pelos caminhos da vida há acontecimentos que se colam à nossa existência como se deles precisássemos para, em momentos oportunos, compreeendermos melhor as voltas que ela nos deu!

 Diz-se, de quem já adquiriu uma certa sabedoria nestas coisas filosóficas da vida, que há um tempo próprio para tudo! Sinto que sim, que a frase faz todo sentido! Hoje pausadamente contemplamos o que ontem nem com um fugaz olhar, achavamos que valia  a pena! Saboreamos a busca das palavras para ilustrarmos memórias, que nunca esquecemos! E para nossa própria surpresa, ao reeditá-las, revivemos de uma forma particularmente especial tempos que, apesar de progressivamente distantes, nunca deixaram sentimentalmente de nos pertencer!

Eu era um rapazinho com uns cinco, seis anos de idade, e grande parte do meu tempo disponível era dedicado às brincadeiras, próprias de quem vivia numa aldeia de província! E quem é que nos ensinava as manhas dos jogos próprios desta idade? Do berlinde, do jogo às escondidas, do brincar aos cowboys e tantos outros divertimentos com que a míudagem desses tempos se entretinha? Naturalmente os rapazes mais velhos! E normalmente os da nossa rua ou os que nos fossem mais próximos por outras quaisquer razões. Daí a tentativa, sempre que a possibilidade surgisse, para esta aproximação estratégica.

 E num belo dia de verão, eu assim fiz. Alcancei nas proximidades da casa dos meus pais um grupo formado pelo João Melão e pelos irmãos Alcides e Diamantino Vieira, e fui-me chegando a eles na intenção de aprender algo sobre matéria que ainda não dominasse ou fosse do meu desconhecimento! Só que os marotos não acharam graça nenhuma à minha atrevida ousadia e logo trataram de me provocar um rápido e eficaz (vim mais tarde a confirmá-lo) recuo das minhas intenções! Do que é que eles, inconscientemente e sem se darem conta das consequências que essa atitude iria provocar, se lembraram de fazer? Açularam-me o "Portugal" ! Era um cão enorme, corpulento e quase da minha altura! Servia de guarda à propriedade dos pais dos irmãos Vieira, o saudoso José Vieira, “Cigano”, como quase toda a gente o tratava. Ao ver o "Portugal" vir na minha direcção com um ladrar característico de que coisa boa dali não vinha, só tive tempo de fugir em corrida e para minha desgraça, na pior direcção possível, pela Rua 1º Dezembro acima! É claro que não foram precisos muitos metros de fugida para que sentisse no lado direito do meu tenrinho traseiro, os dentes aguçados do maldito cão e uma consequente valente mordidela!

 Depois de socorrido, lembro-me perfeitamente de ir numa carroça até à Azinhaga e ser tratado onde são hoje, penso não estar errado, as instalações da Misericórdia. Aplicaram-me na zona afectada dois agrafes de alumínio com um alicate próprio, que era o método clínico utilizado na altura para suturar feridas nessas condições, deslocando-me mais tarde também ali para os tirar. Tudo isto sem anestesias ou outro meio que evitasse a dor!

As marcas que eternizarão este episódio ainda "cá estão", mas o "Portugal", apenas resiste à memória dos meus tempos de menino atrevido, que se meteu onde não era chamado! Mas hoje e fazendo o possível ajuste de contas com o tempo, constato que imerecidamente paguei um preço demasiado elevado! Bolas!!!! Afinal o que eu queria tão só, com os de maior idade, era aprender mais qualquer coisita!!!....