05 julho 2010

Férias no Pombalinho!





"Suponho que teria de ser assim. Só voltei a Águas Belas vinte e cinco anos depois de pela última vez ter atravessado o portão da casa que o meu avô mandara edificar, na década de 1920, com o dinheiro ganho na exportação de madeiras.


… Depois de um momento de alguma emoção, passado debaixo de uma laranjeira, entrei na velha casa. As salas parecerem-me mais pequenas do que a memória registara. Mas, apesar de o fogão a lenha, o ferro a brasas e a gaiola com víveres terem desaparecido, o cheiro era o mesmo. E a máquina de coser Singer, a mesa dos engomados e as flores pintadas a óleo pela tia Maria tinham escapado ao zelo modernizador dos descendentes.







… Em 1962, as férias grandes foram passadas em casa de uns amigos espanhóis descobertos num campo de pólo em Inglaterra. No ano seguinte, casava. Águas Belas iria ser substituída por outra aldeia, situada um pouco abaixo. Paradoxalmente, aquilo de que agora precisava era de solidão. E essa havia-a, em abundância, no casarão do Pombalinho. Entre os meus dois filhos, suficientemente tenros para adorarem o campo , entretive-me a ler a correspondência, terna e pragmática, que Manuel Freire, o primeiro barão de Almeirim, enviara a sua mulher, Luísa Braamcamp, irmã do futuro líder do Partido Progressista. Mas não foi isto o que de mais importante ali aconteceu. Pela primeira vez, tive oportunidade de reflectir a sério sobre o que queria da vida.


… Na semana passada, decidi voltar à região. Não ia em busca de raízes, espalhadas entre Felgueiras e as Caldas, o Pombalinho e Londres, Lisboa e Oxford. Ia como turista, de "Nikes" nos pés e máquina fotográfica na mão. Embora pouco familiarizada com o IP, consegui chegar a Santarém. Ainda hesitei em ir ao Pombalinho . Mas, morta a Evangelina, retirados os móveis, crescidos os filhos, a deslocação não fazia sentido. Fui visitar antes o Museu Braamcamp Freire, o palácio pertencente ao par do Reino que, em 1907, num ataque de fúria com D. Carlos, decidira aderir ao Partido Republicano. Este filho dos donos do Pombalinho morreria sem deixar descendentes, estipulando, no testamento, que a casa deveria ser transformada em museu. "


Excerto do capítulo, Na terra dos meus avós, retirado do livro "Passaporte" da autoria de Maria Filomena Mónica.

Nota - Maria Filomena Mónica esteve casada com Carlos Braamcamp Freire Pinto Coelho, filho de Maria da Madre de Deus Amado Braamcamp Freire e neto de Carlos Braamcamp Freire, 4º barão de Almeirim. 
Excerto do capítulo, Na terra dos meus avós, retirado do livro "Passaporte" da autoria de Maria Filomena Mónica.


Nota - Maria Filomena Mónica esteve casada com Carlos Braamcamp Freire Pinto Coelho, filho de Maria da Madre de Deus Amado Braamcamp Freire e neto de Carlos Braamcamp Freire, 4º barão de Almeirim.