13 março 2010

Barbearias !








Antigamente as barbearias ocupavam um lugar importante na vida particular das pessoas e no normal funcionamento dos centros populacionais! As novas tecnologias da Gillette e da Nacet ainda não tinham invadido os lares dos portugueses e os barbeiros, em paralelo com outras profisssões algumas delas hoje já quase extintas, integravam um grupo de actividades e serviços, imprescindíveis na vida social das populações. No entanto e ao contrário das outras, as barbearias eram consideradas também como lugares privilegiados de encontros, após as longas jornadas diárias de trabalho.







Os sábados eram os dias preferidos para se ir ao barbeiro! Formavam-se filas de espera para que chegasse a vez de ocupar a tradicional cadeira rotativa! E há volta de um simples corte de cabelo ou barba, falava-se muito e de muita coisa. O ritmo era lento e por isso excepcionalmente convidativo a trocas das mais variadas conversas entre os presentes, criando-se assim expontâneas “assembleias populares” que de outro modo e em circunstâncias idênticas era de todo impossível. E depois havia o elemento principal! O tempo! Esse cronómetro da nossa existência, ainda era “medido” de forma saudávelmente serena! A ansiedade de que os ponteiros do relógio saltitassem de minuto em minuto a um tempo inferior aos padronizados sessenta segundos, era coisa de tempos inimagináveis! E assim sendo, pela noite fora, o clima “tertúliano” surgia despreocupadamente!!!


No Pombalinho dos anos sessenta/setenta do século passado, existiram simultaneamente em actividade de funções, três barbeiros, o Carlos Cavaco, o Heliodoro Bacalhau e o Veríssimo Duarte. Todos eles tinham clientelas mais ou menos estereotipadas! Eram visíveis as suas diferenciações, que só por razões imprevistas é que aconteciam eventuais “trocas de cadeiras".





Veríssimo Duarte



Dos três, o Veríssimo podia-se considerar, talvez, o profissional mais tradicional. Não só pelos cortes que fazia, mas também pelo rigor como os executava. Um corte à “inglesa curta” era sinónimo de cabelo bem curtinho! Orelhas bem descobertas e pescoço à mostra, uma tigelada, como irónicamente se chamava! Mas mesmo assim era o mais solicitado, talvez para evitar precisamente que a clientela lá voltasse tão cedo! Pessoa afável e serena, era de um trato respeitável!








Trabalhou profissionalmente numa barbearia localizada na rua de Sto António, ali bem junto aquele que é hoje o "Mini Mercado Júlia" .








Naquela que viria a ser a sua última barbearia, ali no cruzamento da rua de Santo António com a 5 de Outubro e a Eugénio de Menezes, desempenhava frequentemente em simultaneidade, a função de enfermeiro. Especializou-se nos anos de 1937/1938, juntamente com o Dr Victor Semedo e era a ele que os pombalinhenses recorriam sempre que, por indicação clínica, eram medicamentados com injecções de aplicação intravenosa. A memória transporta-nos para aqueles gestos simples mas devidamente automatizados com que o Verissímo Duarte esterilizava, numa tina apropriada com água a ferver e aquecida por combustão do alcool etílico, as seringas e as respectivas agulhas!


Hoje, esse ambiente das barbearias quase já não existe! O tempo não nos perdoaria se tivéssemos que o gastar numa noite de serão, à espera que um qualquer barbeiro nos dissesse após uma longa espera: " é a tua vez, podes-te sentar !!!" 



Também AQUI poderá testemunhar outras barbearias, outros tempos....

Colaboração fotográfica de MªLuísa N Duarte/Bruno Cruz