A cava da vinha era dos
trabalhos mais cansativos e árduos que se faziam noutros tempos e aos
quais muitos trabalhadores do campo se sujeitavam de modo a garantirem um
rendimento continuado e estável na subsistência económica da família. E depois,
como a modernização agrícola de charruas e tractores ainda estava bem distante
deste tipo de actividade exercido nesses longínquos anos, não existiam de facto
outras alternativas a esta forma de tratar as terras de vinhedo!
Viviam-se tempos
nos quais a exploração maciça de mão obra era utilizada em tudo, ou quase tudo,
que fossem trabalhos agrícolas e a vinha, obviamente, não fugia à regra
! Ranchos de homens e mulheres vindos de fora ou formados por pessoas do Pombalinho
e arredores, por regra, sempre dirigidos pelo respectivo feitor ou homem de
seleccionada confiança do patrão, povoavam desde o nascer até ao por do sol os
vãos das vinhas! As enxadas devidamente balançadas pela força de mãos
firmes e experientes de homems rasgavam a terra de uma forma lenta e
compassada.
Havia de entre os
patrões quem recorresse estrategicamente a processos para vencer o cansaço
provocado pelas características rudes deste trabalho. E uma delas era o recurso
ao consumo de vinho, por parte dos trabalhadores mesmo durante as horas
de laboração! O alcool ingerido, quase sempre sem regra, funcionava como
estimulante e inibia o forte cansaço que se apoderava de todos, com particular
incidência nos mais fracos em robustez fisica, e ai destes que se atrasasassem
em relação aos demais, pois o risco de não serem contratados na próxima
"praça" , era mesmo muito grande!
Aliás, o vinho
chegou a fazer parte da jorna e os patrões utilizavam o de menor qualidade
nesses pagamentos semanais aos trabalhadores! Eram realmente tempos muito
difíceis! Hoje o mundo é bastante diferente nas relações laborais, no entanto,
lembrar estes tempos dificeis, ainda faz todo o sentido, quem sabe, talvez,
para compreendermos melhor o percurso que nos levou aos tempos presentes!
As fotografias
publicadas, ilustram, melhor do que muitas palavras, o modo como eram exercidas
as cavas das vinhas por terras do Pombalinho! Foram registadas por Guilherme
Afonso no ano de 1964 na propriedade do Aviz, pertença de António de Menezes e
os textos em “italic” postados
sob a forma de legendas, retirados da carta que o nosso Amigo me escreveu,
fruto de uma passeata que fez com a sua máquina fotográfica a tiracolo, nesse
mês de Abril!
... Mas não deixo de
aproveitar o envio das mesmas para algumas observações sobre o tema. A primeira
é de que a maior parte do rancho não é do Pombalinho. Do Pombalinho fazem parte
do rancho apenas três pessoas, salvo erro: o meu pai, o Eleutério e o Germano
Saúde. Numa das fotos está o meu pai (José Afonso), à esquerda, com a enxada ao
alto, e outro, à direita, que não me lembro quem seja.
... Noutra estão o Eleutério e o Germano Saúde, que não estão
reconhecíveis, mas eu sei que são eles.
... A segunda observação é sobre a constituição do rancho. Lá mais
para trás não vinham ranchos de fora (ratinhos ou gaibéus) para a cava das
vinhas nem tão pouco para a vindima. Vinham para a colheita da azeitona. E em
anos de boa colheita vinham vários, e grandes. Cheguei a trabalhar integrado
num deles.
... A terceira e última observação é para estabelecer uma relação
entre a vinda de ranchos de fora para cultivar as vinhas, nesse ano de 1964, e
o número de trabalhadores (do Pombalinho, claro) na "praça" nesse
mesmo ano, conforme se pode observar numa fotografia que já lhe enviei (e que o
Manuel Gomes meteu no blog do Pombalinho )
e noutra que lhe envio agora, tiradas na mesma altura. Lá mais para trás,
também, o pessoal era muito, muito mais. A "praça" ficava cheia. Por
isso, antes havia, geralmente, pessoal no Pombalinho que chegava para todas as
tarefas ligadas à agricultura, menos para a colheita da azeitona. Em 1964, como
se vê, e não sei desde quantos anos antes, já não.
Colaboração
– Guilherme Afonso
6 comentários:
Este é um dos blogs do vizinho que mais aprecio, pois conta-nos aqui um pouco da história do Pombalinho.
Deixei-lhe, no meu Açor, um miminho como reconhecimento pelo bem que me faz, ao dar-me a conhecer todos estes aspectos da sua terra natal, que desconhecia.
Agradeço-lhe a visita, Lourdes Martinho, mas também pela simpatia que manifestou a este espaço, ao atribuir-nos um reconhecimento de mérito!
Beijinho!
Mais uma vez visitei o seu Pombalinho e, como sempre, com enorme gosto.
Um Abraço.
Muito obrigado pela sua visita, caro Fernando Marques.
Um Abraço!
Se há fotografias que iram ficar para a historia eternamente,estas serão mais umas ,fiquei a saber mais uma pouco sobre os homens e mulheres que naquele tempo trabalhavam na terra para ganhar o seu sustento.
Como gosto de ver fotografias antigas ,onde a historia está nela contida ,fico encantado de visitar este blog que é extraordinário,já que ,os meus pais também são deste tempo e contavam a nós ,filhos, o que era duro trabalhar no campo,mas com estas imagens e textos, temos outra noção e confirmo as suas palavras.
um abraço a todos que elaboram este blog de modo a dar a conheces principalmente aos jovens,que é o meu caso ( 35 anos) como foi o Ribatejo há muitos anos
Caro Luís Henriques!
Agradeço-lhe a simpatia desta sua visita.Em nome de todos que tornam possível este trabalho, o meu obrigado pelas palavras de reconhecimento que por bem quis deixar no seu comentário!
Um Abraço!
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